Se o Brasil seguir a tendência de
outros países e oficializar a indústria da maconha, nós teremos "uma
fábrica de esquizofrênicos".
A opinião é do psiquiatra Valentim Gentil Filho, professor titular da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), convidado desta segunda-feira (4) do programa Roda Viva, apresentado ao vivo na TV Cultura e reproduzido pelo UOL.
Para o psiquiatra,
considerado um dos mais influentes do país, a sociedade tem sido conivente e
omissa em relação à droga, e os riscos provocados por ela não têm sido bem
divulgados. Gentil Filho contou no programa que, segundo estudos bem
fundamentados, a maconha aumenta em 310% o risco de esquizofrenia quando consumida
uma vez por semana na adolescência. E trata-se de uma doença incurável: "O
esquizofrênico pode ter uma vida praticamente normal, mas sempre há uma
sequela".
O psiquiatra sugeriu que,
assim como pais permitem que seus filhos consumam álcool em festas, a
informação distorcida de que maconha não faz mal fará com que eles deixem os
jovens fumarem em casa. E o problema é que, nos adolescentes, que estão em uma
fase de "poda" natural do cérebro para a entrada na idade adulta, a
droga é especialmente prejudicial.
O professor também fez
críticas à chamada luta antimanicomial, que fez o Brasil fechar milhares de
leitos psiquiátricos sem proporcionar alternativas. Ele ressaltou que o atual
modelo dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) não tem como substituir o
atendimento ambulatorial e as internações psiquiátricas. Para Gentil Filho, não
se trata de abandonar os pacientes em manicômios, mas garantir o tratamento em
fase aguda. Ele reforçou que, atualmente, só um terço dos pacientes
psiquiátricos diagnosticados recebe tratamento.
Para o psiquiatra, tanto a
luta antimanicomial quanto a vinda de cubanos (pelo programa Mais Médicos)
fazem parte de uma visão mais ampla que a medicina, de uma mentalidade que
persiste no Ministério da Saúde e tem raízes político-ideológicas. Na prática,
segundo ele, o que acontece é que há um número absurdo de pessoas com
transtornos graves nas ruas, rejeitadas por hospitais e por outras
instituições. "Há uma desassistência fenomenal e nós temos recursos
terapêuticos", lamentou.
Depressão e pânico
O convidado do Roda Viva
também falou sobre o aumento no diagnóstico de depressão, que para ele é fruto
de diversos fatores, como a ampliação dos conceitos sobre a doença e a
descoberta de novas moléculas que se mostram mais eficazes que o placebo. Ao
falar de outros transtornos que têm sido mais frequentes, ele também mencionou
a síndrome do pânico. Entre as possíveis causas desse aumento, de acordo com o
especialista, estão o maior consumo de estimulantes, cafeína e medicamentos com
ação no sistema nervoso e atitudes como a privação de sono, capazes de
deflagrar crises. Mas ele pondera que o estresse não é algo novo na humanidade,
assim como os transtornos mentais. "Eu prefiro viver hoje do que nos
tempos bíblicos", ironizou.
O programa apresentado pelo
jornalista Augusto Nunes e a bancada de entrevistadores contou com Fernanda
Bassette (repórter de saúde do jornal O Estado de São Paulo), Ulisses Capozzoli
(editor-chefe da Revista Scientific American Brasil), Paulo Saldiva (professor
titular da Faculdade de Medicina da USP, especialista em poluição atmosférica),
Aureliano Biancarelli (jornalista da área de saúde) e Luciana Saddi
(psicanalista, escritora e blogueira da Folha de São Paulo). O Roda Viva ainda
teve a participação do cartunista Paulo Caruso.
Fonte: UOL